A ARADURA
(Daniel Varujan – tradução de Luciano
Maia)
Horó, horó, horó – o surdo rumor do arado sob a
terra.
Na névoa
azul da manhã sobre o flanco da colina
Avançam os
bois robustos ao som dos chocalhos
E ruminam a
última palha com a testa enrugada.
Do dorso da
montanha desponta o sol indolente
E depõe um
beijo de outro sobre a fronte do camponês.
O homem se
encaminha cantando, o cabo do arado na palma da mão
E traça o
seu caminho, reto como a sua alma.
Horó, horó, horó – os sulcos se abrem esfumaçando,
Os torrões
férteis se enfileiram ao lado.
As relhas de
aço se arrastam indiferentes de um canto a outro,
Inundando a
aradura com suas luzes de prata.
Embaixo,
esmagada, agonizante, se retorce uma minhoca.
Tremem as
toupeiras em seu refúgio de trevas.
Sobre os
montes de terra jorra o sangue
Das
serpentes decapitadas pelo arado.
O sol já faz
fluir as suas veias que destilam fogo
No útero
perfumado dos sulcos apenas abertos.
Horó, horó, horó – este ano os campos sagrados ainda
não estão cultivados,
Mas a fileira
da aradura já se alonga ao infinito.
Os bois
robustos aceleram o passo. Tocado pelo ferrão
Vibra cada
vez mais o pelo luminoso dos seus ventres.
Que importa
se a roda chora de improviso contra o obstáculo
E sobre cada
torrão escoa o suor do camponês.
Antes que
atrás da montanha repique o sino santo da aldeia
Estará
escuro todo o flanco da colina
E os longos
sulcos em fileira estarão terminados,
Abençoados
pelo orvalho da noite, pela saliva dos bois.
E quando nos
confins do campo, com um trêmulo esforço
O arado
enlodado se detiver de improviso, o camponês cansado
Pensará
confiante – em nome das colheitas vindouras –
Que as relhas
do arado deram com uma ânfora abarrotada de ouro.